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No esquema da Lava-Jato, propina era dividida entre pai e filha

Em depoimento, o empresário Carlos Alexandre Rocha informou que em 2010 foram repassados R$ 7,5 milhões aos ex-deputados Aline e Pedro Corrêa. Sobre a relação, doleiro Alberto Youssef brincou: “Em política, até pai rouba filha e filha rouba pai”

No esquema de desvio de dinheiro da Petrobras para pagamento de propina a políticos e a partidos políticos, até familiares dividiam e disputavam os valores repassados pelos operadores da Lava-Jato. Depoimento do empresário Carlos Alexandre Rocha, o Ceará, apontado como office-boy do doleiro Alberto Youssef, mostra que, dentro do PP pai, filha e genro dividiram propina que era fruto de recursos desviados da Petrobras.

Segundo delação premiada feita por Ceará aos investigadores da Operação Lava-Jato, o ex-deputado Pedro Corrêa, condenado no julgamento do mensalão, dividiu, durante o ano de 2010, R$ 7,5 milhões desviados de contratos da Petrobras com a filha, a ex-deputada Aline Corrêa (PP/PE) e o genro, o também ex-parlamentar Roberto Teixeira (PP/PE). Por conta dessa divisão de propina interna no PP, o doleiro chegou até a fazer uma piada com seus aliados.

“Alberto Youssef, diante do fato de Pedro Corrêa não ter repassado o valor para Aline Corrêa, disse ao declarante [Ceará] em tom de brincadeira: ‘Em política, até pai rouba filha e filha rouba pai’”, aponta Ceará em seu termo de depoimento.

Durante o ano de 2010, Corrêa pai revelou a Youssef que não iria concorrer à reeleição ao cargo de deputado federal em virtude do processo do mensalão. Na época, a chamada Ação Penal 470 estava em fase final de tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal). Dessa forma, ele passou a trabalhar pela reeleição da filha em 2010 e pela eleição do genro.

No segundo semestre daquele ano, Youssef, pelas informações de Ceará, repassou R$ 7,5 milhões para as campanhas de Aline Corrêa e Roberto Teixeira. Além disso, o empresário também disse que entregou recursos diretamente a Pedro Corrêa em um apartamento funcional da Câmara, localizado na 311 sul.

Esse dinheiro, pelas informações de Carlos Rocha, era destinado à filha do então deputado federal. O valor teria sido cobrado pela própria Aline Corrêa, segundo o depoimento prestado por Ceará aos investigadores da Lava-Jato. Nos depoimentos, Ceará indica que a cobrança ocorreu porque o próprio pai não repassou parte da propina à filha, durante as eleições de 2010.

Residência

De acordo com a delação premiada de Ceará, apesar de Pedro Corrêa não ser deputado federal nos anos seguintes, ele ainda tinha um forte poder de articulação junto à base do PP na Câmara e por isso ele ainda recebia recursos desviados da Petrobras. “Depois da eleição de Aline Corrêa e Roberto Teixeira a deputado federal em 2010, Pedro Corrêa continuou frequentando o escritório de Alberto Youssef para pegar dinheiro, embora com menor assiduidade”, disse Ceará aos investigadores.

Em uma das últimas entregas feitas por Ceará a Pedro Corrêa, ele afirmou que deixou pouco mais de R$ 100 mil na residência do ex-parlamentar em 2013, após ele ter sido condenado no mensalão. Ceará disse que levou R$ 130 mil, mas, antes de entregar o dinheiro, tirou uma cota de 3% referentes aos “serviços de entrega” de propina e seus custos com passagens aéreas.

Nesta terça-feira (5), a reportagem do Fato Online revelou que Ceará cobrava taxa de serviço da ordem de 3% a 8% para entregar propina em domicílio a políticos envolvidos no esquema de desvios de recursos da Petrobras. A reportagem do Fato Online tentou contato com os ex-parlamentares Aline e Pedro Corrêa e com o ex-deputado Roberto Teixeira, mas não conseguiu.

Fato Online
Foto:Orlando Brito/ObritoNews/Fato Online