O aumento do tempo de trabalho necessário para comprar uma cesta básica no Distrito Federal é mais do que uma estatística econômica: é o retrato da desigualdade que persiste no coração político do país. Em uma cidade marcada pelo contraste entre altos salários da elite estatal e a realidade precária das periferias, a elevação do custo dos alimentos básicos aprofunda o abismo social e expõe a fragilidade das políticas de combate à carestia.
A inflação dos alimentos não atinge a todos da mesma forma. Para o trabalhador que depende do salário mínimo ou de rendas instáveis, a cada minuto a mais de trabalho exigido para garantir comida na mesa, corresponde uma fatia menor de dignidade e segurança alimentar. O dado sobre a cesta básica revela a perversidade de um modelo econômico que preserva privilégios no centro do poder, mas falha em assegurar o básico para a maioria. Brasília, vitrine institucional do Brasil, carrega o paradoxo de ser ao mesmo tempo a capital da abundância e do desespero silencioso.
O problema não será resolvido com discursos ou medidas pontuais de alívio, como cortes temporários de impostos. É necessário atacar as raízes da desigualdade: fortalecer programas de renda, regular o mercado de alimentos, incentivar a agricultura familiar e, sobretudo, garantir políticas públicas que coloquem a segurança alimentar como prioridade de Estado. Caso contrário, o tempo de trabalho para comprar uma cesta básica continuará crescendo — e com ele a distância entre um Brasil que se alimenta com fartura e outro que luta diariamente contra a fome.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil