Brasília e Goiânia amanheceram com temperaturas abaixo dos 10 °C, um recorde de frio em 2025. Para muitos, é apenas mais uma frente fria intensa; para outros, um sinal claro de que o clima do Centro-Oeste está sofrendo mudanças cada vez mais bruscas. Enquanto os meteorologistas explicam o fenômeno pela combinação de massas de ar polar e céu limpo, a questão mais profunda permanece: até que ponto estamos preparados para lidar com extremos climáticos que antes eram raros na região?
O problema não está apenas no desconforto de um dia gelado, mas na infraestrutura e nas políticas públicas que ignoram a vulnerabilidade da população diante desses eventos. Sem aquecimento adequado em escolas e hospitais, sem abrigos suficientes para moradores de rua e com uma rede elétrica frágil diante do aumento do uso de aquecedores, a cidade revela uma perigosa improvisação para lidar com situações que já deveriam estar no planejamento urbano e social.
A ironia é que Brasília, capital política do país, é também palco da negligência institucional quando o assunto é adaptação climática. O discurso sobre sustentabilidade e combate às mudanças climáticas ecoa em eventos internacionais, mas pouco se traduz em ações concretas para proteger quem sofre primeiro e mais intensamente os efeitos do frio: a população pobre e desassistida. O frio extremo não é apenas uma questão meteorológica, é também um reflexo das desigualdades sociais e da falta de prioridade governamental.
Se este recorde de frio servirá para alguma mudança real, dependerá da capacidade de transformar o alerta em política pública consistente. A cada nova onda de frio, repetem-se as promessas e as emergências improvisadas. É hora de aceitar que extremos climáticos não são exceção, mas parte da nova realidade, e que a resposta a eles precisa ser planejada, contínua e socialmente justa — ou estaremos condenados a tratar cada frente fria como um desastre inevitável, quando, na verdade, é fruto de previsões ignoradas.
Folha de Brasília, Da redação.
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