A recente declaração do presidente Lula, de que “quanto mais candidatos de direita houver em 2026, melhor”, expõe com clareza a lógica política que tem marcado o Brasil nos últimos anos: a aposta deliberada na polarização. Para Lula, a fragmentação dos adversários favorece sua permanência no poder, reduzindo as chances de que uma candidatura única da direita se torne competitiva. Do ponto de vista estratégico, a leitura é correta. Do ponto de vista democrático, no entanto, revela uma lógica preocupante: governar olhando mais para a matemática eleitoral do que para a construção de consensos.
A polarização já demonstrou seu custo elevado. Ela amplia o ódio entre grupos políticos, engessa o debate público e transforma divergências legítimas em trincheiras ideológicas intransponíveis. Ao comemorar a multiplicação de adversários, Lula mostra que também se alimenta desse cenário, reforçando a lógica do “nós contra eles” que fragiliza instituições e paralisa a capacidade do país de debater soluções comuns. O eleitorado, por sua vez, fica refém de uma disputa que privilegia narrativas de confronto em detrimento de propostas consistentes.
O Brasil precisa de estabilidade política para enfrentar seus problemas mais urgentes: desigualdade social, violência, crise climática e baixa competitividade econômica. Mas a elite política insiste em transformar a eleição em guerra de torcidas. A fala de Lula não é apenas uma análise pragmática; é um sintoma de um sistema que já naturalizou o conflito como método de sobrevivência. Se a democracia brasileira quiser amadurecer de fato, será preciso romper com esse ciclo vicioso da polarização e devolver ao eleitor o direito de escolher entre projetos reais, e não apenas entre lados de uma briga eterna.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação