A declaração do presidente da COP30 de que já existem “pré-consensos” para as negociações internacionais sobre o clima soa alentadora à primeira vista, mas exige leitura cautelosa. Em conferências multilaterais, especialmente as que tratam de meio ambiente, “pré-consenso” é muitas vezes sinônimo de acordo preliminar sobre o que ainda será discutido — um estágio importante, porém distante de resultados concretos. O verdadeiro teste começa quando as promessas entram na arena dos interesses econômicos e das disputas geopolíticas.
A COP30, que será realizada em Belém, carrega um peso simbólico inédito. Pela primeira vez, uma conferência global do clima acontece no coração da Amazônia — justamente onde o discurso ambiental precisa encontrar coerência prática. Falar em pré-consensos é um avanço diplomático, sem dúvida, mas o desafio está em garantir que as intenções não se percam entre relatórios e declarações de boas intenções. Enquanto isso, o desmatamento avança, o aquecimento global acelera e as metas do Acordo de Paris se tornam cada vez mais distantes.
O Brasil, na condição de anfitrião e liderança natural da pauta ambiental na América do Sul, tem a oportunidade de converter prestígio internacional em influência real. Mas, para isso, precisa apresentar resultados domésticos sólidos: corte efetivo no desmatamento, incentivo à bioeconomia e clareza na transição energética. Os “pré-consensos” podem ser o primeiro passo, desde que o país e a comunidade internacional deixem de tratar o clima como tema de cúpula e o encarem como prioridade de sobrevivência. Diplomacia sem ação é apenas retórica com prazo de validade.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil







