A proposta de criar um posto especializado para atendimento de autistas na Delegacia da Criança e do Adolescente do Distrito Federal é um passo importante na tentativa de tornar o sistema de segurança mais inclusivo. O reconhecimento de que pessoas no espectro autista necessitam de abordagem diferenciada mostra sensibilidade social, especialmente em um espaço marcado pelo trauma, pela vulnerabilidade e, muitas vezes, pela hostilidade. No entanto, a iniciativa levanta uma questão central: basta criar estruturas específicas ou é preciso repensar de forma ampla a forma como o Estado lida com a diversidade?
De fato, a criação de um posto especializado pode representar alívio imediato para famílias que enfrentam o desafio de buscar proteção legal sem encontrar preparo nos servidores públicos. Mas o risco é que a proposta se torne apenas um gesto simbólico, limitado a uma delegacia, sem garantir capilaridade ou formação continuada para toda a rede policial e judiciária. Sem investimento em capacitação, protocolos claros e acompanhamento constante, a medida corre o risco de virar vitrine política, incapaz de provocar mudanças estruturais.
O desafio do DF é transformar iniciativas pontuais em política pública robusta. Não basta abrir uma sala adaptada: é preciso assegurar atendimento digno, acolhedor e universal, para que pessoas autistas não dependam da sorte de estar na delegacia “certa”. O projeto merece ser apoiado, mas precisa ser ampliado e fiscalizado para que não se transforme em mais um anúncio de impacto imediato e de resultado limitado. Inclusão de verdade não se faz com exceções, mas com a transformação da regra.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil