A operação da Polícia Civil do Distrito Federal que desarticulou uma rede milionária de distribuição de cogumelos alucinógenos revela a sofisticação crescente do crime organizado no Brasil. O esquema não se limitava à venda clandestina: utilizava marketing digital, influenciadores e até embalagens personalizadas para atrair jovens e naturalizar o consumo de substâncias ilícitas. O que antes era restrito a circuitos marginais, agora se apresenta de forma sedutora, quase profissional, competindo com o mercado legal em estratégia e comunicação.
Esse fenômeno expõe duas fragilidades graves. Primeiro, a capacidade de adaptação do crime frente às brechas regulatórias e à lentidão do Estado em fiscalizar novas formas de tráfico. Enquanto autoridades ainda discutem como lidar com drogas sintéticas tradicionais, o mercado já avança para psicodélicos apresentados como “alternativas naturais” ou “tratamentos alternativos”. Segundo, a superficialidade do debate público sobre drogas, que oscila entre o moralismo estéril e a permissividade inconsequente, sem construir políticas sérias de prevenção, tratamento e repressão inteligente.
O caso dos cogumelos alucinógenos em Brasília deveria servir de alerta: o crime não é mais apenas o traficante de esquina, mas um conglomerado que sabe explorar linguagem digital, fragilidade regulatória e até discursos de bem-estar para lucrar. Combater esse modelo exige mais do que operações pontuais — é preciso estratégia integrada, educação crítica e fiscalização atualizada. Caso contrário, o Estado continuará correndo atrás de um mercado ilícito que se reinventa mais rápido do que suas próprias leis.
Da redação, Folha de Brasília
Arte/Folha de Brasília







