A possibilidade de aumento nas tarifas de transporte para o entorno do Distrito Federal volta a assombrar trabalhadores e estudantes que dependem diariamente desse deslocamento. O reajuste de 2,91%, suspenso desde fevereiro, pode ser aplicado já nos próximos dias, impactando diretamente milhares de famílias que vivem em cidades vizinhas e têm Brasília como destino obrigatório para trabalhar, estudar ou acessar serviços básicos.
O problema, no entanto, vai além do reajuste. Trata-se de uma crônica desigualdade na forma como o transporte entre o DF e seu entorno é tratado. O sistema permanece caro, ineficiente e excludente. Enquanto a capital recebe investimentos pontuais em corredores exclusivos e projetos de mobilidade, quem mora fora do Plano Piloto continua refém de passagens altas, ônibus superlotados e viagens longas e cansativas. É uma demonstração clara de como políticas públicas ignoram a realidade de quem vive fora do centro administrativo.
É preciso lembrar que esse reajuste não é apenas um número frio: ele representa menos comida na mesa, menos dinheiro para a escola das crianças e mais pressão psicológica sobre trabalhadores que já enfrentam uma rotina desgastante. A cada centavo acrescentado, o recado é o mesmo: o ônus da falta de planejamento e integração metropolitana recai sobre os mais vulneráveis, enquanto soluções estruturais continuam sendo adiadas.
O entorno não pode continuar sendo tratado como área de segunda categoria. Se o DF depende diariamente da força de trabalho que vem dessas cidades, é obrigação do Estado garantir transporte digno, acessível e eficiente. Caso contrário, cada aumento de tarifa será mais um lembrete doloroso de que a mobilidade na região é pensada como negócio — e não como direito social.
Folha de Brasília, Da redação.
Foto: Carolina Freitas.