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Shopping Popular de Brasília não vinga e ambulantes voltam para as ruas

12cid6f2jpg_969Em 2008, os vendedores ambulantes desapareceram das ruas do centro da capital. A ideia era a de levar os trabalhadores para o Shopping Popular de Brasília, criado pelo governador, à época, com esse propósito. Muitos ambulantes se empolgaram com o projeto, mas, hoje a maioria não tem o que comemorar.

Dificuldades

A vendedora de bolsas Marinês de Farias, 37 anos, trabalha nas ruas há 12 e, por pouco tempo, acreditou que o shopping pudesse emplacar. Ela chegou a ter um box no local e explica que somente o espaço foi cedido o resto das despesas ficou por conta dos ambulantes.

“Eles só deram o chão. A gente é que teve que construir aqueles boxes. O dinheiro que nós tínhamos guardado, com o trabalho nas ruas, foi todo investido na construção dos boxes. E não deu certo. É por isso que a gente está assim, trabalhando no meio da rua de novo. Tem gente que trabalha lá dentro que passa é fome”, desabafou a vendedora.

Marinês disse ainda que a dificuldade em conseguir um emprego formal também é um dos motivos que a levam para as ruas novamente. “A opção que temos é comprar uma mercadoria e vir arriscar a vida na rua. Vai fazer o quê?”, questionou. A vendedora chegou a trabalhar por um período no Shopping Popular, mas segundo a ambulante, só teve despesas e prejuízos. Por isso, decidiu abandonar a banca.

“Não dá certo porque não vai ninguém lá. O problema é o local mesmo. Quando a rodoferroviária funcionava ainda dava certo, depois acabou todo o movimento e só restou endividamento por causa de empréstimos em banco. A Feira dos Importados é praticamente dentro da Cidade do Automóvel e o shopping popular fica no meio do mato. É diferente”, comparou a ambulante.

Para a maioria dos ambulantes, o ideal seria ter um ambiente organizado para trabalhar e não precisar fugir da fiscalização o tempo todo. Marinês disse que a ideia do shopping é válida, mas por causa da pouca circulação de pessoas na região, muitos abaixam as portas dos boxes e levam as mercadorias para o Setor Comercial Sul, plataforma superior da rodoviária e outros pontos da capital.

Fiscalização

O fracasso do Shopping Popular resultou no retorno dos ambulantes às ruas do DF. A fiscalização feita pela Agefis (Agência de Fiscalização) e Seops (Secretaria de Ordem Pública e Social) é como enxugar gelo, já que os órgãos não possuem gente suficiente para fiscalizar todo o Distrito Federal.

Exemplo disso, foi a última sexta-feira (12). Por conta de uma operação contra a venda de produtos falsificados em Ceilândia, os ambulantes puderam vender à vontade na plataforma superior da Rodoviária do Plano Piloto e em outros locais. Além disso, por ser Dia dos Namorados, o movimento de clientes e vendedores aumentou ainda mais.

A presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, afirma que o problema é social e que não cabe apenas fiscalização. De acordo com a presidente, um mapeamento já começou a ser feito em conjunto com a Secretaria de Desenvolvimento Social para a criação de novos pontos de trabalho para os ambulantes para que eles saiam das ruas até fim deste ano. “A ideia é que seja necessária apenas a repressão. Os grandes centros da cidade como em Taguatinga, Ceilândia e Brasília já têm um comércio estabelecido e não cabem os vendedores informais”, destacou.

Persistência

No Shopping Popular desde o início, Greice Pedreira é proprietária de três boxes de roupas femininas, mas segundo a microempresária, somente com a instalação do posto de atendimento do Detran, no ano passado, decidiu se fixar no local. “Minha despesa mensal é alta. Antes de o shopping ganhar mais movimento de pessoas eu fazia “sacoladas” na casa das amigas para poder me sustentar”, contou.

De acordo com Greice, o faturamento mensal com as vendas de roupas é de cerca de R$ 2 mil. A banca é aberta às 9h e o expediente se encerra às 17h, de segunda à sexta.  “Eu poderia ficar até mais tarde se tivesse segurança e outras lojas abertas. Não abro no sábado porque o Detran não funciona. Além disso aqui só tem um segurança à noite. Muitos já foram assaltados aqui. Fico com medo”, disse.

Os feirantes do Shopping Popular pagam a taxa de MEI (Micro Empreendedor Individual) e uma contribuição mensal de R$ 42 por box.

Além do Detran, uma agência do BRB (Banco de Brasília) também foi instalada no local, com intuito de trazer consumidores para o shopping. Restaurantes, roupas, acessórios, artesanato, produtos fitoterápicos e outros materiais estão à disposição de quem passar por lá.

Outro lado

“O que falta para atrair a clientela é o feirante assumir suas lojas. O governo precisa retomar as bancas dos especuladores imobiliários e passar para quem realmente quer trabalhar. Falta fiscalização.  O local é maravilhoso e não existe falta de clientes aqui. Falta mercadoria e os boxes em funcionamento”, enfatizou a presidente da Associação dos feirantes do Shopping Popular de Brasília, Edilene Fernandes.

A prática de venda, compra ou aluguel dos boxes do shopping é proibida, mas, de acordo com Edilene, alguns feirantes têm até 12 boxes no local. Pior que isso, os donos mantêm as bancas fechadas ou sem mercadorias. “Nós recebemos as bancas por sorteio. Mas isso não ocorre só no shopping. Em todas as feiras, é proibido vender, mas os feirantes vendem. Quem não sabe?”, indagou.

Atualmente, de 1.585 boxes somente 800 estão em funcionamento. Desse número, alguns donos pagam uma pessoa para abrir os boxes para não perder o direito sobre o espaço, de acordo com a presidente. Com isso, reduz as opções de mercadorias, o que afasta ainda mais a clientela.

A Subsecretaria das Cidades, vinculada a Segeth (Secretaria de Gestão de Território e Habitação) admitiu a especulação imobiliária e que o Shopping Popular não responde a ideia inicial. O espaço deve ser reaproveitado para outras finalidades, já que o comércio não deslanchou. Entre as ações, a instalação de um posto do Na Hora está prevista para este ano.

Com, Fato Online