A segunda semana do julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal promete ser decisiva para o futuro político do ex-presidente e para a imagem da própria Corte. Com a análise das provas da acusação e da defesa em curso, cresce a expectativa em torno dos votos de ministros ainda indecisos, que podem definir se o processo resultará em condenação exemplar ou em absolvição parcial. Mas o que deveria ser apenas um rito jurídico ganha contornos de espetáculo político, acompanhado como um campeonato em que cada voto vira placar de torcida.
Esse ambiente de tensão revela um dos grandes dilemas da democracia brasileira: a Justiça é chamada a cumprir seu papel constitucional, mas atua sob pressão permanente da opinião pública, das redes sociais e do Congresso. Ministros são exaltados ou atacados conforme suas posições, como se fossem personagens de um embate político, e não magistrados aplicando a lei. O risco é que, em vez de reforçar a confiança da sociedade nas instituições, o julgamento termine aprofundando a polarização, alimentando narrativas de perseguição ou de impunidade, dependendo do resultado.
O STF, neste momento, não julga apenas Bolsonaro, mas também sua própria capacidade de se afirmar como poder independente e técnico. Se conseguir conduzir o processo com serenidade, clareza e transparência, a Corte poderá sair fortalecida como guardiã da democracia. Mas se o julgamento se perder em ruídos, vazamentos e tensões entre ministros, o país terá assistido não a uma vitória da Justiça, mas a mais um capítulo de desgaste institucional. O Brasil precisa de um desfecho que reafirme a Constituição, não de um espetáculo que transforme a Justiça em palco da polarização.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil