STF encerra casos centrais do golpismo e evidencia desequilíbrio entre Poderes

STF encerra casos centrais do golpismo e evidencia desequilíbrio entre Poderes

A conclusão, pelo Supremo Tribunal Federal, dos julgamentos referentes aos quatro núcleos denunciados na trama golpista de 8 de janeiro representa um marco decisivo na resposta institucional aos ataques contra a democracia. Ao finalizar a análise desses grupos — responsáveis por financiamento, articulação digital, execução dos atos e apoio logístico — o STF envia um recado inequívoco: não haverá anistia informal nem tolerância com tentativas de subversão da ordem constitucional. No entanto, o ritmo acelerado dos julgamentos também suscita críticas de setores que questionam a concentração de poder na Corte e a ausência de mecanismos mais amplos de revisão em casos de alta complexidade política.

A decisão de julgar por núcleos permitiu ao STF estruturar melhor a narrativa jurídica dos crimes, mas expôs um problema recorrente: a fragilidade das instituições políticas em assumir responsabilidades que deveriam ser compartilhadas. O Congresso, que deveria debater reformas para impedir novas investidas antidemocráticas, segue dividido e, em muitos momentos, reticente em enfrentar grupos aliados ao bolsonarismo. Com isso, os processos se tornaram quase exclusivos da Suprema Corte, que passou a acumular funções de polícia, júri e reguladora dos limites democráticos — um cenário que fortalece o STF no curto prazo, mas gera preocupação sobre equilíbrio institucional no longo prazo.

Ainda assim, a conclusão desses julgamentos reforça um ponto essencial: a democracia brasileira não pode ser reconstruída sem responsabilização. Os quatro núcleos representam camadas distintas de uma engrenagem que tentou, de maneira coordenada, corroer o sistema eleitoral e deslegitimar as instituições. Ao encerrar essa etapa, o STF cumpre seu papel, mas deixa evidente que o país ainda não enfrentou as raízes da radicalização que permitiu que o 8 de janeiro acontecesse. Se a resposta institucional não vier acompanhada de reformas políticas, educação cívica e fortalecimento da confiança pública, a justiça feita hoje poderá não impedir novas ameaças amanhã.

Da redação, Folha de Brasília.

Foto:  Rosinei Coutinho/STF