A decisão da Polícia Federal de suspender por 34 dias o delegado que comandava a segurança pública do Distrito Federal durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 chega com um atraso que compromete sua eficácia simbólica e prática. Passados mais de dois anos, a medida soa mais como resposta burocrática do que como responsabilização efetiva diante de um dos episódios mais graves da democracia brasileira. O problema não é apenas a punição branda, mas o que ela revela: a falta de preparo e de comando diante de alertas já conhecidos sobre a escalada de violência naquele dia.
Os atos de 8 de janeiro não foram um raio em céu azul. Havia informações de inteligência circulando, havia alertas claros sobre risco de invasão, e ainda assim a condução da segurança se mostrou frágil e conivente. A suspensão do delegado, nesse contexto, parece pouco mais que um gesto administrativo para marcar posição, sem aprofundar o debate sobre a cadeia de responsabilidades. Afinal, se a falha foi coletiva, por que a resposta continua individual e simbólica? A punição seletiva arrisca transformar-se em bode expiatório, deixando intocado o sistema que permitiu a omissão.
A democracia exige respostas institucionais mais sérias e transparentes. Não basta punir de forma tardia e superficial, é necessário aprender com os erros e reformar a estrutura de segurança para que jamais se repita o caos que vimos na Praça dos Três Poderes. Se o 8 de janeiro revelou a vulnerabilidade do Estado frente ao extremismo, a resposta precisa ser proporcional: punição exemplar, revisão de protocolos e compromisso político com a defesa da ordem democrática. Caso contrário, a suspensão de 34 dias será lembrada apenas como mais um capítulo da impunidade que corrói a confiança nas instituições.
Da redação, Folha de Brasília
Foto: Rinaldo Morelli/CLDF