A denúncia de violência política feita pela deputada distrital Dra. Jane Klébia, somada à sua proposta de vincular o benefício do aluguel social à apresentação de boletim de ocorrência em casos de violência doméstica, joga luz sobre duas chagas que marcam a vida pública e privada do Distrito Federal: o silenciamento das mulheres na política e a insuficiência de políticas de proteção às vítimas. Ao unir sua experiência pessoal ao debate legislativo, a parlamentar expõe como a violência de gênero atravessa não apenas os lares, mas também os espaços institucionais de poder.

A proposta de condicionar o aluguel social à comprovação por meio de boletim de ocorrência é polêmica. De um lado, busca garantir que o recurso chegue a quem realmente necessita, evitando distorções no uso da política pública. De outro, pode se transformar em barreira burocrática para mulheres em situação de risco que, por medo ou desconfiança das autoridades, não registram ocorrência imediata. A medida, se aprovada sem ajustes, pode acabar penalizando justamente as vítimas mais vulneráveis, que necessitam de apoio emergencial e não de obstáculos adicionais.

O episódio revela a contradição de um Estado que se mostra incapaz de enfrentar a violência em todas as suas dimensões. Quando uma parlamentar precisa denunciar violência política, a mensagem é clara: nem mesmo nas esferas de poder as mulheres estão seguras. E quando políticas de proteção às vítimas de violência doméstica se reduzem a condicionantes burocráticas, a impressão que fica é a de que o Estado prefere controlar o acesso ao benefício em vez de garantir sua eficácia. O DF precisa ir além do simbolismo e construir políticas inclusivas, ágeis e preventivas. Sem isso, denúncias e propostas continuarão a ecoar mais como desabafo do que como solução real.

Da redação, Folha de Brasília

Foto: Câmara Legislativa do Distrito Federal