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População do DF se preocupa com aumento nos preços de serviços

O pacote de medidas para equilibrar as contas do Distrito Federal, anunciado pelo governador Rodrigo Rollemberg na última terça-feira, vai pesar no bolso dos brasilienses. Entre elas estão os aumentos das tarifas de ônibus e do metrô, do preço na entrada do Jardim Zoológico de Brasília e o reajuste na taxa dos 13 restaurantes comunitários, além da elevação nos impostos, como no caso do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU).

Os aumentos, obviamente, não agradaram a população. Mas o que provocou maior revolta e indignação entre os brasilienses foi o reajuste nas tarifas de ônibus e do metrô, que começam a vigorar no próximo  domingo. Quem utiliza o transporte público do DF diariamente considera os novos  valores muito altos. “Pagar R$ 4 em uma passagem de ônibus é um absurdo, ainda mais no DF, onde as distâncias não são tão grandes. Esse aumento pesará muito no bolso do trabalhador, que, ultimamente, trabalha cada vez mais para conseguir pagar as contas”, avalia o operador de marketing Pedro Monteiro, de 44 anos.

Efeito cascata

Para o servidor público Thiago de Abreu, 27 anos, o reajuste nas passagens só valeria a pena se o sistema de transporte público fosse melhor. “Quando se tem um transporte tão ruim e precário, nada justifica o aumento da tarifa. Se o nosso sistema fosse eficiente, rápido e de qualidade, o valor do reajuste era justificável, e eu pagaria sem reclamar”, afirma.

Na opinião dele, o aumento vai prejudicar toda a população, não só os trabalhadores, mas também empresários, gerando um efeito cascata.

Quem também não está nada satisfeita é Rubiana Santos, de 19 anos,   vendedora em uma loja localizada no Plano Piloto. Com o aumento nas passagens de ônibus e metrô, ela teme por seu emprego. “Vai ficar muito caro. Muitos patrões vão querer reduzir o número de funcionários por causa disso. Acho que quem pega mais de um ônibus por dia vai sair prejudicado”, observa.

“Surreal”

A estudante Poliana Martins,   28 anos, desaprova o reajuste nas tarifas. Para ela, o governo não pode jogar a culpa da má gestão na população. “Chega a ser uma situação surreal, porque temos um transporte público de péssima qualidade. O governo aumenta tudo, menos o salário da população”, reclama.

Ela menciona ainda outro reajuste que  assombra o brasiliense:   o do preço dos combustíveis.   “Ou seja, nem de carro vamos poder andar porque o valor para encher um tanque será absurdo. Os governantes querem jogar a culpa da má gestão e corrupção no bolso do contribuinte”, afirma.

Nem o Zoo escapou da medida

A partir da próxima terça-feira, o ingresso do Jardim Zoológico  vai aumentar de R$ 2 para R$ 5 para todos os visitantes, de terça a quinta-feira. De sexta a domingo e nos feriados, o valor será de R$ 10, com meia-entrada de R$ 5 para estudantes até 24 anos, idosos com idade igual ou superior a 60 anos, professores e beneficiários de programas sociais do governo mediante comprovante. Crianças de até cinco anos e pessoas com deficiência são isentas da taxa.

A dona de casa Thaís dos Anjos, 21 anos, acha que o novo valor vai diminuir o quantitativo de visitantes. “Às vezes, venho com minha sobrinha, mas esse é um tipo de passeio que não se gasta somente com a entrada, mas também tem o lanche, o brinquedo, o picolé. Acho que, se a família for grande, o custo ficará muito alto”, analisa.

A mãe de Thaís, a aposentada Ivete Vitoriano, 41 anos, visitava o zoológico pela primeira vez e achou um absurdo o aumento no preço da entrada, tendo em vista que o zoo de seu estado não cobra entrada.

“Moro no Mato Grosso e no zoológico de lá ninguém paga para visitar. Sem contar que é tudo perto, então, dá para ir andando, sem ter de pagar passagem de ônibus”, destaca.

Ponto de vista

Na visão do economista Roberto Bocaccio Piscitelli, o subsídio pago pelo governo às empresas de transporte público é muito elevado. Junto com o congelamento dos reajustes das tarifas, acaba pesando no bolso da população.

“Tarifas congeladas são uma bomba de efeito retardado. Em algum momento, é necessário aumentar o preço das passagens, até porque o governo paga um valor muito alto de subsídio para as empresas de ônibus. Mas a minha crítica é que todo governo prefere aumentar a passagem em vez de fazer uma auditoria bem feita com as empresas para saber se o valor pago de subsídio, de fato, é o correto”, afirma.

Segundo Piscitelli, se a auditoria com as empresas fosse realizada, haveria aumento, mas com reajuste menor. Com a situação, o economista acredita que os valores de produtos e serviços subirão. “Para quem não tem emprego, a situação ficará mais difícil, porque o deslocamento ficará mais alto. É um drama, infelizmente”, avalia.

“Lazer caro para as famílias”

Ao saber do aumento na taxa de entrada do zoológico, o autônomo Jobelino Souza, 31 anos, decidiu antecipar a visita ao local. “Passear lá vai se tornar um programa de lazer caro para as famílias, porque, além das entradas, tem as passagens de ônibus, o lanche para os meninos, os brinquedos que eles gostam. Além disso, criança não quer saber de preço. De carro também fica muito caro, porque a gasolina está muito alta”, afirma.

A esposa de Jobelino, Elizete Batista, 31 anos, doméstica, conta que gosta de levar os filhos para passear no local, mas, por conta do aumento da entrada, vai ter que ficar mais em casa. “Infelizmente, esse era um dos programas de lazer mais baratos para se fazer com as crianças, mas vai pesar muito. Se aumentassem a tarifa para R$ 5, não pesaria tanto”, analisa.

Comércio

O aumento na tarifa das passagens de ônibus e do metrô também pegou os empresários da capital de surpresa. Para Edson de Castro, presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), o aumento dos impostos vai resultar em mais comércios fechados em todo o DF. Para ele, o maior problema é que o governo deixa para aumentar os impostos e tarifas em um momento ruim para a economia.

“Com esses reajustes, o dinheiro deixa de entrar nas lojas, porque o cidadão acaba trabalhando para pagar dívidas. E, com pouco dinheiro circulando no mercado, há um endividamento maior dos lojistas”, explica. Segundo Edson, quem pagará pelo aumento nas passagens será o consumidor, tendo em vista que os patrões não deixarão de lucrar.

“O que vai acontecer é que os empresários aumentarão os preços de seus produtos para arcar com as despesas maiores com os funcionários. Todas as vezes que existe algum reajuste de imposto, as mercadorias aumentam de preço. Ou seja, sempre é o consumidor que arca com tudo”, assegura.

Menos contratações

De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Edson de Castro, a tendência deste ano é que não haja tantas contratações de funcionários temporários no comércio, como ocorria anteriormente. Segundo ele, isso vai acontecer porque o movimento tem sido muito fraco no setor e pode ser ainda pior.

Adelmir Santana, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), ressaltou que é importante mostrar para a sociedade que o Estado não tem condições de manter os subsídios de gratuidade de passagens do transporte público coletivo.

Aumento necessário

“O governo não pode manter benefícios quando ele não dispõe de recursos. Por causa disso, o aumento se faz necessário para manter a gratuidade de estudantes, idosos e deficientes. Mas é preciso fiscalizar melhor o uso desses subsídios”, analisa Santana.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília