Foto: José Paulo Lacerda/CNI/Divulgação
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Repercussão do PIB: setor produtivo espera crescimento maior em 2023

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Repercussão do PIB: setor produtivo espera crescimento maior em 2023

O economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), destaca três principais fatores responsáveis pelo crescimento de 0,6% no setor de serviços no último trimestre. É importante ressaltar que o setor de serviços desempenha um papel significativo na economia brasileira, contribuindo com 70% da dinâmica econômica do país.

O primeiro fator é a menor sensibilidade do setor de serviços ao aperto monetário, representado pelo alto nível da taxa de juros. Isso contrasta com a indústria e o comércio de bens duráveis, como automóveis, que são mais afetados por variações na taxa de juros.

O segundo fator está relacionado à demanda reprimida que se acumulou no setor de serviços durante a pandemia. Esse setor sofreu muito com as restrições impostas pela pandemia, especialmente no turismo. Ainda há uma demanda reprimida considerável nesse segmento, o que tem impulsionado uma recuperação mais forte em relação a outros setores.

O terceiro fator é a valorização do real em relação ao dólar. Isso torna mais difícil para a indústria e o comércio competirem com produtos estrangeiros, que se tornam relativamente mais baratos. Essa condição também afeta o comércio em geral. No primeiro semestre, o dólar teve uma queda de 9,4% em relação ao real. O setor de serviços não é tão afetado pela desvalorização do dólar, e, na verdade, isso contribui para controlar a inflação, uma vez que o setor depende muito dos níveis gerais de preços.

Fabio Bentes espera que, se a inflação continuar controlada, mesmo que em níveis um pouco mais altos, e o Banco Central promova novos cortes na taxa de juros, o setor de serviços e o consumo no comércio possam experimentar um aquecimento mais significativo no segundo semestre de 2023, mantendo-se como os principais impulsionadores do PIB.

Indústria otimista

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a maior entidade de classe da indústria brasileira, representando 130 mil indústrias, considerou que o resultado do PIB do segundo trimestre superou as expectativas.

Segundo o economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, a projeção da Fiesp era de 0,8%, mas o desempenho foi ainda melhor. Ele destacou particularmente o desempenho positivo do setor agrícola, que surpreendeu ao registrar apenas uma queda de 0,9%, em contraste com a expectativa do mercado de uma queda de 3,4%. No geral, o resultado foi visto como positivo.

Igor Rocha também mencionou que a Fiesp projetava inicialmente um crescimento de 2,6% para a economia, o que já estava acima do consenso do mercado, que variava entre 2,1% e 2,3%. Essa projeção, segundo ele, não era baseada apenas em otimismo, mas sim em dados concretos. Considerando que não ocorram surpresas negativas, a Fiesp espera agora um crescimento de 3% em 2023, o que demonstra um cenário ainda mais positivo para a economia brasileira.

Agropecuária

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) considera que a queda de 0,9% no setor agropecuário era esperada devido à sazonalidade, ou seja, ao comportamento cíclico das safras. Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA, explica que o desempenho do setor agropecuário segue um padrão semelhante a um gráfico em forma de V: apresenta um bom primeiro semestre, quedas de desempenho nos segundo e terceiro trimestres, e volta a subir no final do ano.

Ele também destaca que a análise mais precisa deve ser feita comparando o desempenho com o mesmo trimestre do ano anterior, o que reduz os efeitos da sazonalidade e mostra um crescimento de 17%. Além disso, Renato Conchon menciona outra análise relevante, que é o acumulado dos últimos quatro trimestres, onde o setor agropecuário cresceu 11,2%.

Conchon atribui o desempenho positivo do setor agropecuário ao bom rendimento das safras de culturas de grande produção em volume, como soja, milho, algodão e atividades pecuárias. Ele ressalta que esses resultados são resultado de estímulos do ano anterior, incluindo os altos preços das commodities nos mercados internacionais e no Brasil. Esses fatores têm contribuído para o sucesso da safra atual.

Preocupação

O patamar de preços das commodities, que estimulou os produtores durante o plantio da safra atual, pode ter um impacto negativo na próxima safra devido à queda nos valores.

Renato Conchon, analista da CNA, explica que com a redução da renda, os produtores podem optar por investir em pacotes tecnológicos mais baratos, o que pode resultar em uma diminuição da produtividade.

Ele destaca como exemplo a queda nos preços nos últimos doze meses, mencionando que o valor da saca de soja recuou 16,6% em dólares, e a arroba do boi teve uma queda de 32,1% em dólar. Essa análise em dólares é crucial, uma vez que grande parte da produção é exportada para o mercado internacional.

Além disso, Conchon aponta uma preocupação adicional que afeta a safra no final deste ano e no início de 2024: o El Niño, um fenômeno de aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico. Ele expressa preocupação com o potencial impacto do El Niño no início do plantio da safra 23/24, especialmente no cultivo de trigo, previsto para o final deste ano e início de setembro do próximo ano. Esse é um fator que foge totalmente do controle dos produtores e pode afetar significativamente a produção agrícola.