Técnica conhecida como curativo a vácuo acelera recuperação de feridas e queimaduras complexas

Um acidente de carro em maio deste ano mudou radicalmente a vida de Allan Tasso, 25 anos, formado em engenharia civil. O jovem – que ficou internado no Hospital Regional da Asa Norte – sofreu queimaduras severas que atingiram parte do tronco, cabeça, todo o braço direito e mão. Graças a terapia de pressão negativa, considerada um tratamento inovador implantado na rede pública desde 2012, 99% das feridas do braço e tronco, consideradas as mais complexas, cicatrizaram.

O jovem foi atingido por um carro desgovernado enquanto estacionava o veículo no canteiro de obras da BR 060, que liga o DF à Goiânia, durante o trabalho. “Meu carro explodiu e o outro capotou. Fiquei internado quase dois meses, mas, agora, restam pequenas feridas que trato com pomadas diariamente, mas não preciso mais fazer curativos. Sem esse tratamento, não sei quanto tempo mais eu teria que ficar longe de casa”, destacou Allan, que mora naquela cidade.

A tecnologia – popularizada como curativo à vácuo porque utiliza uma bomba de sucção, associada a uma espuma e filme – é usada para a cura definitiva de lesões de pé diabético, vítimas de queimaduras severas, entre outros casos clínicos traumáticos. No caso de Allan, sem a aplicação do novo tipo de curativo, ele levaria o dobro do tempo para se recuperar e poderia perder a mão ou ter uma cicatrização inferior com sequelas de mobilidade.

“Nós conseguimos fechar, de maneira definitiva e mais rápido, uma ferida que normalmente não cicatriza ou leva muito tempo para fechar. Os outros procedimentos tradicionais são falhos e, às vezes, são insuficientes para fechar totalmente uma ferida. Hoje, a terapia de pressão negativa é fundamental” destacou o coordenador de Cirurgia Plástica da Secretaria de Saúde, José Adorno, que é pioneiro no uso do tratamento no Brasil e considera uma das maiores evoluções da medicina já usada em países como os Estados Unidos nos últimos 20 anos.

Apenas no Hospital da Asa Norte, são realizados aproximadamente 100 procedimentos por mês. O custo do tratamento pode variar entre R$ 200 a R$ 500 reais por dia na rede privada. O mecanismo do curativo consiste em reduzir o edema local (inchaço), melhorar a circulação sanguínea da área, diminuir a colonização bacteriana porque são associados antissépticos, que ficam atuando na ferida.

“Apesar de o tratamento parecer caro, é menos oneroso em função da sua eficiência, o que auxilia na desospitalização. Se formos calcular o quanto seria gasto ao longo do tempo com uma ferida não cicatrizada que exige cirurgias sem sucesso, consultas e trocas frequentes do material, o custo é muito maior”, disse José Adorno.

 “Infelizmente, quando estamos internados é o período em que o psicológico está mais abalado e o risco de desenvolver uma depressão é grande. Por isso, a desospitalização rápida é muito importante”, confirmou o paciente Allan.

Segundo o médico, o sofrimento não é só do paciente, mas da família. “O curativo tem que ser feito todos os dias e os parentes têm que se desdobrar para cuidar. Além disso, a ferida que não se fecha por longos períodos aumenta consideravelmente o risco de infecção, causa mal cheiro e pode trazer mais complicações”, finalizou.

ENTENDA – O médico explica que para fazer o curativo, a área afetada é coberta por uma espuma e um filme. Uma mangueira, que fica interligada a uma bomba de sucção, é conectada a esse material. Com isso, uma pressão negativa controlada é exercida 24 horas por dia, fazendo uma compressão no sentido de fechamento da ferida. Nos materiais que ficam em contato com o ferimento, também são aplicados produtos antimicrobianos, como a prata, usada há muitos anos.

O curativo à vácuo tem indicações corretas e a sua prescrição é discutida interdisciplinarmente entre vários profissionais. O mecanismo de ação funciona como redutor do edema, ou seja, do inchaço no local, e controla a população bacteriana, porque uma ferida crônica é contaminada. Outra vantagem é a fazer a troca dos curativos entre três e cinco dias, ao invés de executar o procedimento diariamente.

 “Em alguns casos, a ferida fecha apenas com o uso do curativo e em outras situações o curativo dá condições para que a lesão seja fechada definitivamente por uma cirurgia reparadora com enxerto ou retalho”, informou.

Segundo ele, são frequentemente realizados cursos de capacitação, encontros, jornadas, simpósios e treinamentos para que o método possa ser usado em todas as unidades de saúde.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social